Artigo: 'Joe Biden chega ao Oriente Médio', escreve Henry Galsky
Artigo: ‘Joe Biden chega ao Oriente Médio’, escreve Henry Galsky
O simbolismo de um voo entre Tel Aviv e Jedá parece ser mais relevante do que a própria visita em si
*Por Henry Galsky, de Israel
O presidente norte-americano Joe Biden visita Israel e os territórios palestinos em meio a grandes incertezas no jogo político israelense e regional. Sob a sombra do desenvolvimento nuclear iraniano –e das dificuldades que o atual governo em Washington encontra para refazer o acordo com Teerã (capital do Irã)–, o principal propósito das autoridades de Israel é deixar claro que, apesar de haver um governo provisório que funciona apenas como tampão até mais um dos intermináveis processos eleitorais, há uma linha que se mantém.
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Essa linha, em especial, é a que sustenta as diretrizes israelenses justamente diante do Irã, foco de permanente preocupação não somente em Jerusalém, como também entre os diversos atores regionais do chamado eixo sunita sobre o qual trato por aqui com frequência. Com os Acordos de Abrãao se mantendo de pé e diante de um projeto de construção regional iraniano que não dá sinais de mudança, a aliança entre israelenses e as monarquias do Golfo se reafirma dia a dia.
A visita de Biden reforça esta percepção a partir de sinais relativamente óbvios, como a viagem programada para a Arábia Saudita a partir de Israel, realizando portanto um voo para lá de simbólico entre Tel Aviv e Jedá –feito que não é inédito, mas que é comemorado regionalmente e também pelo próprio Joe Biden, como ele mesmo ressalta em artigo que escreveu para o jornal norte-americano Washington Post, intitulado “Por que estou indo para a Arábia Saudita”:
“Líderes de toda a região irão se reunir, apontando para a possibilidade de um Oriente Médio mais estável e integrado, com os Estados Unidos desempenhando um papel de liderança vital”, disse.
De fato, Biden não está errado. A política internacional –e a política, de forma mais ampla– é muitas vezes construída a partir de símbolos. E a integração entre Israel e as monarquias do Golfo carrega intrinsecamente muitos símbolos que também são caros aos EUA, lembrando sempre algo que escrevo também com frequência por aqui: a principal potência estrangeira presente no Oriente Médio de forma permanente é a Rússia de Vladimir Putin a partir do processo de enfraquecimento da posição norte-americana –também fruto do investimento de Putin e dos muitos mecanismos que levaram Donald Trump à Casa Branca.
Donald Trump foi o presidente norte-americano que se empenhou diretamente em rever e modificar alguns dos principais preceitos presentes no histórico da política externa dos EUA.
Joe Biden enfrenta muitos desafios na presidência do país. Dentre eles, liderá-lo após quatro anos de Trump e, claro, lidar com a pandemia de Covid que ainda existe. Isso sem falar nos desafios internacionais, como a guerra entre Rússia e Ucrânia e a pressão permanente exercida pela China.
No Oriente Médio, o Irã é a principal fonte de problemas, mas Biden também precisa resolver certos impasses que ele mesmo criou durante a campanha presidencial, quando disse que não iria se reunir com as lideranças sauditas (já tratei do tema por aqui também). O conflito entre israelenses e palestinos acabou por se tornar, quem diria, um assunto menos relevante, diante deste quadro mais amplo.
Biden será lembrado disso por aqui. Mas esta é uma visita que tem outro foco, no caso o principal problema regional e fonte permanente da instabilidade do Oriente Médio: a disputa entre sunitas e xiitas. Ao contrário do que normalmente o senso-comum acredita, a visita protocolar de Biden a Israel e aos territórios palestinos será a constatação do óbvio. Não por acaso, o simbolismo de um voo entre Tel Aviv e Jedá parece ser mais relevante do que a própria visita em si.
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- 09.mar.2022 – ‘As razões que podem ter levado o primeiro-ministro de Israel a Moscou’
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- 24.fev.2022 – ‘Não se pode estabelecer maniqueísmos na crise entre Ucrânia e Rússia‘
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