Amazônia: 2022 tem maior número de focos de queimadas em 12 anos
Amazônia: número de focos de queimadas até setembro de 2022 é o maior dos últimos 12 anos
Pará tem 3 das 5 cidades brasileiras com maior número de focos de queimadas na Amazônia
A Amazônia acumula em 2022 (de 1º de janeiro a 27 de setembro), o maior número de focos de queimadas dos últimos 12 anos, de acordo com dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Ou seja, desde 2010 não se verificava tantos focos de queimadas na região.
- Ao todo, já são 85.150 focos de queimadas em 2022, de 1º de janeiro a 27 de setembro;
- Em 2010, no mesmo período, houve 96.837 focos;
- Em 2021, ano passado, nesse mesmo período, houve 55.048 focos;
- Portanto, o aumento deste ano em relação a 2021 é de 55%.
O levantamento ainda aponta que nos 27 primeiros dias de setembro deste ano, a Amazônia teve 39.128 focos de queimadas. O aumento é de 150% em comparação aos 15.624 focos detectados no mesmo período de setembro de 2021.
“Ainda é tempo de entender que a floresta vale mais em pé, que não há necessidade de queimadas e desmatamento, pois já temos muitas áreas abertas improdutivas”, disse num comunicado (leia a íntegra) o diretor de Restauração e Conservação do WWF-Brasil, Edegar de Oliveira.
Mostramos no Correio Sabiá que restaurar pasto custa 72% a menos do que desmatar novas áreas, segundo pesquisa. Leia aqui a reportagem completa.
Pará é o estado ‘campeão’ em focos de queimadas na Amazônia
Os estados com maior número de focos no acumulado de 2022 (até 27 de setembro) são, em ordem:
- Pará
- Mato Grosso
- Amazonas
- Acre
- Rondônia
O Pará é o “campeão” da destruição da Amazônia nesse período, com 27.249 focos. É também o estado com maior aumento (93%) do número de focos em comparação ao mesmo período de 2021, quando foram registrados 14.093 focos.
Ao considerar apenas o mês de setembro (até o dia 27), o Pará também é o estado com maior número absoluto de focos e aumento percentual em relação ao mesmo mês de 2021. Foram 11.972 focos de queimadas em 2022, contra 3.645 no mesmo período em 2021 (alta de 228%).
Em 2º lugar vem o Amazonas, com aumento de 202%. A alta foi de 2.675 focos em 2021 para 8.082 em 2022, considerando apenas setembro.
O Pará tem 3 municípios entre os 5 com maior número de focos de queimadas em 2021 (até 27 de setembro) na Amazônia. Eis os municípios mais atingidos pelo fogo até agora em 2022:
- São Félix do Xingu (PA)
- Altamira (PA)
- Lábrea (AM)
- Porto Velho (RO)
- Novo Progresso (PA)
São Félix do Xingu (PA) teve em 2022 um total de 4.943 focos de queimadas, aumento de 154% em comparação ao mesmo período no ano passado. É também o município com a pior situação em setembro (até dia 27) em 2022, com 2.151 focos, aumento de 251% em comparação ao mesmo período em 2021.
Nos 27 primeiros dias de setembro, o maior aumento percentual em relação ao ano passado ocorreu em Lábrea (AM). Foram 587 focos nesse período em 2021 e 2.118 focos em 2022. Aumento de 261%.
Amazônia: agosto com mais queimadas nos últimos 12 anos
Já tínhamos mostrado no Correio Sabiá que a Amazônia teve o mês de agosto com mais focos de queimadas dos últimos 12 anos, de acordo com dados do Inpe. Ou seja, desde 2010 não se verificava tantos focos de queimadas na região.
Ao todo, agosto teve 33.116 focos de queimadas na Amazônia, quantidade que supera até o número de 2019, quando houve o chamado “Dia do Fogo”, com 28.060 focos.
Verificou-se ainda uma “explosão” da quantidade de focos de queimadas em agosto, já que o total acumulado de focos no período de janeiro até o último mês foi de aproximadamente 46 mil focos.
Em nota, a ONG WWF Brasil disse que “em todos os 4 anos que correspondem à atual gestão federal o número de focos de queimadas na Amazônia teve valores próximos ou superiores a 40 mil entre janeiro e agosto.”
A nota informou que, nos 10 anos anteriores (2009-2018), a média de focos no mesmo período (janeiro a agosto) foi de cerca de 28 mil focos.
O Correio Sabiá recebeu a nota do WWF Brasil enviada à imprensa e disponibiliza a íntegra abaixo, conforme orientam suas Políticas Editoriais disponíveis e públicas na seção Quem Somos deste site.
- Eis a íntegra da nota do WWF Brasil a respeito do desmatamento na Amazônia
Do editor: Sempre que possível disponibilizamos íntegras de documentos oficiais por questões de transparência e para que você possa se aprofundar em assuntos do seu interesse, se assim desejar.
Quando e como ocorrem as queimadas na Amazônia
Gerente de Ciências do WWF-Brasil, Mariana Napolitano afirmou que “o descontrole das queimadas observado nos últimos 4 anos está estreitamente associado a um aumento do desmatamento e da degradação florestal nesse período”.
“A Amazônia é uma floresta tropical úmida e, ao contrário do que ocorre em outros biomas, o fogo não faz parte de seu ciclo natural. Os incêndios não surgem de forma espontânea no bioma e sua ocorrência está sempre associada a ações humanas –em especial ao desmatamento e à degradação florestal”, afirmou no comunicado recebido pelo Correio Sabiá.
Do editor: o WWF Brasil explicou mais didaticamente em que situação ocorrem as queimadas na Amazônia e o Correio Sabiá, dentro da sua função de explicar o noticiário para que você realmente entenda as notícias, transcreve abaixo a explicação.
As queimadas, em geral, correspondem à última fase do desmatamento: depois de cortar as árvores, os desmatadores colocam fogo na floresta derrubada para “limpar o terreno”. Mas a degradação florestal também contribui fortemente para o aumento o fogo.
As áreas degradadas, embora não tenham sido totalmente devastadas pelo corte raso:
- têm menor números de árvores grandes,
- são mais suscetíveis aos efeitos das secas,
- acumulam mais biomassa seca e inflamável, e
- assim, ficam mais vulneráveis ao fogo.
Assim como as queimadas, o desmatamento também aumentou consideravelmente nos últimos 4 anos. Embora os dados de agosto ainda não estejam disponíveis, o período do início de janeiro ao fim de julho mostrou que a devastação bate recordes sucessivos desde 2019. De acordo com o sistema de alerta Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real), do Inpe:
- de 2016 (início da série histórica) a 2018, a média anual de alertas de desmatamento na Amazônia Legal corresponde a 2,6 mil km², no período entre janeiro e julho.
- de 2019 a 2022, no mesmo período, a média anual foi de 5 mil km².
- em 2022, foram 5,4 mil km² devastados.
O Deter é um sistema de alerta, que detecta sinais de desmatamento com base em imagens de satélites. Serve para dar suporte aos órgãos de fiscalização ambiental, como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), por exemplo. O sistema registra a retirada completa da floresta nativa e as áreas com degradação progressiva
Assim, o Deter reporta mensalmente o ritmo da degradação florestal e do desmatamento. No entanto, as imagens podem eventualmente ficar prejudicadas pela cobertura de nuvens, impossibilitando a identificação de todos os desmatamentos. Ou seja, a conta do desmatamento pode ser maior.
Amazônia teve maior desmatamento da história no 1º semestre de 2022
Já mostramos anteriormente no Correio Sabiá que a Amazônia teve neste ano (2022) o seu maior desmatamento histórico desde 2016. Isso porque foram desmatados 3.988 km² no 1º semestre deste ano. A série histórica, que começou justamente em 2016.
Confira abaixo outros dados do desmatamento no 1º semestre deste ano:
- O desmatamento na Amazônia neste primeiro semestre de 2022 é praticamente 3 vezes maior que o registrado em 2017 (1.332 km²).
- Este é o 4º ano consecutivo com recordes de desmatamento no período.
- O aumento do desmatamento no 1º semestre de 2022 em comparação aos primeiros 6 meses de 2021 foi de 10,6%.
- No 1º semestre de 2022, o município de Formosa do Rio Preto (BA) foi o campeão de alertas de desmatamento com 261 km².
- O mês de junho também teve a pior marca da série histórica.
- Foram devastados 1.120 km² no mês na Amazônia, 5% a mais que em junho de 2021 (1.061 km²).
- Os estados mais desmatados em junho de 2022 foram o Amazonas (401 km²) e o Pará (381 km²).
Gerente de Ciências do WWF-Brasil, Mariana Napolitano afirmou naquela ocasião que o desmatamento da Amazônia no 1º semestre de 2022 foi alarmante e que coloca o bioma cada vez mais perto do ponto a partir do qual a floresta não conseguirá mais se sustentar, nem prover os serviços ambientais dos quais o país depende.
“Perdemos 3.988 km² na Amazônia Legal em apenas 6 meses, confirmando a tendência de intensificação do desmate dos últimos 3 anos. Quando perdemos floresta, colocamos em risco nosso futuro. A Amazônia é chave para a regulação das chuvas das quais dependem nossa agricultura, nosso abastecimento de água potável e a disponibilidade de hidroeletricidade. O roubo de terras públicas e o garimpo ilegal, que não geram riqueza ou qualidade de vida, está destruindo nosso futuro”, afirmou num outro comunicado do WWF Brasil recebido pelo Correio Sabiá àquela altura.
Desmatamento no Cerrado brasileiro mais que dobra em junho de 2022
Apesar de a Amazônia chamar atenção por seu tamanho, outros biomas têm sofrido com o mesmo problema do desmatamento. Também mostramos no Correio Sabiá que o Cerrado, por exemplo, dobrou o desmatamento no mês de junho.
Ou seja, considerando-se apenas o mês de junho deste ano, foram desmatados 1.026 km² –mais que o dobro do registrado em 2021 (485 km²) e 2020 (427 km²). O aumento é de 111,5% em comparação a junho do ano passado.
Em junho de 2022, mais uma vez, os estados mais devastados estão no que se chama de “Matopia”: Maranhão (400 km²) e Tocantins (193 km²).
No acumulado deste ano, entre o início de janeiro e o fim de junho (1º semestre), foram devastados 3.638 km² no Cerrado. O aumento é de 44,5% em comparação aos 6 primeiros meses de 2021, quando foram destruídos 2.518 km².
Do editor: o Correio Sabiá entende em nível editorial (como pensamos como empresa) que a preservação do Meio Ambiente é um assunto central para a sociedade. Por isso, a sustentabilidade deve estar no topo das prioridades.
Como parte do nosso compromisso de divulgar a Ciência, repercutimos no Correio Sabiá uma pesquisa que mostrou que restaurar pasto degradado custa até 72% menos do que desmatar novas áreas.
Se você gosta do nosso Jornalismo independente, considere se tornar apoiador do nosso trabalho para, juntos, possamos voar mais longe. Sem Meio Ambiente preservado não existe Sabiá nem uma sociedade saudável.
Apoie nossos voos
Fazemos um trabalho jornalístico diário e incansável desde 2018, porque é isso que amamos e não existe nada melhor do que fazer o que se ama. Somos movidos a combater a desinformação e divulgar conhecimento científico.
Fortalecemos a democracia e aumentamos a conscientização sobre a preservação ambiental. Acreditamos que uma sociedade bem-informada toma decisões melhores, baseadas em fatos, dados e evidências. Empoderamos a audiência pela informação de qualidade.
Por ser de alta qualidade, nossa operação tem um custo. Não recebemos grana de empresas, por isso precisamos de você para continuar fazendo o que mais gostamos: cumprir nossa missão de empoderar a sociedade civil e te bem-informado. Nosso jornalismo é independente porque ele depende de você.
Apoie o Correio Sabiá. Cancele quando quiser.