O que é poluição sonora?
A maioria das pessoas está familiarizada com o impacto negativo do plástico nos oceanos. No entanto, outra forma de poluição ainda pouco conhecida e com consequências difíceis de medir também compromete o ecossistema marinho: a poluição sonora oceânica. Para entender o problema, tente imaginar uma vez em que a buzina de um carro atrapalhou sua conversa, aquela situação em que um helicóptero passou perto ou quando uma obra começou justamente no momento em que você queria se concentrar para trabalhar.
Tudo isso é poluição sonora, e ela está por toda parte: no ar, em solo e também debaixo debaixo d’água, nos oceanos. Neste caso, na maioria das vezes, são motores de embarcações turísticas (outro exemplo são plataformas offshore). A tese de mestrado em Biotecnologia Marinha pela UFF (Universidade Federal Fluminense), da pesquisadora Aléxia A. Lessa, mostra exatamente os impactos da poluição sonora produzida por embarcações no ecossistema marinho de Arraial do Cabo, cidade no estado do Rio de Janeiro (Brasil).
Se você fecha a janela da sua casa quando a obra começa para diminuir o ruído ou muda de lugar quando o ambiente fica muito barulhento, por que achar que as espécies marinhas fariam diferente? É exatamente a mesma coisa. O estudo conduzido por Lessa se debruçou sobre o peixe-donzela, popularmente conhecido como “donzelinha” (Stegastes fuscus), uma espécie-chave na dinâmica de sistemas recifais rasos, porque é herbívoro e tem comportamento territorialista.
O que dizem os cientistas
"A comunicação toda de peixe é com som. Toda a parte social, reprodutiva, é com som. Então, qualquer som que atrapalhe isso vai ter problema no ciclo de vida de peixe. Dentro do ciclo de vida estamos falando aí de reprodução, principalmente, que é o mais importante, mas outras interações sociais que levam à reprodução e mesmo predação."
DR. CARLOS EDUARDO LEITE FERREIRA, professor associado no Departamento de Biologia Marinha da UFF"Os ruídos de embarcações geralmente são produzidos em baixa frequência, e essas baixas frequências geralmente são a mesma faixa de frequência de organismos marinhos, como os peixes, por exemplo. Então, isso pode causar uma sobreposição de sons, mascarar os sons que são importantes para a comunicação desses organismos e afetar a reprodução dessas espécies."
VIVIANE BARROSO, oceanógrafa e doutoranda em Biotecnologia Marinha, especialista em IA aplicada à ecologia acústica (IEAPM/UFF)"Se você for na praia aí agora, vai ter a influência de ruído de navio de uma distância bem longa. Então está ali, um ruído acumulado, mas a gente tem outros ruídos: ruído de obras, ruídos de equipamentos que estão no navio, sem ser aqueles que fazem o navio andar, outros equipamentos."
DR. FÁBIO CONTRERA, professor colaborador do PPGBM (Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Marinha), do IEAPM (Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira)/UFF"Em Arraial do Cabo tem um ponto de mergulho chamado Enseada do Gato (...), mas por conta do fluxo [de embarcações], o ruído embaixo d’água, o som dos motores, é muito frequente. Optamos por não fazer esse ponto de mergulho não pela falta de vida marinha, que é bem abundante lá, mas porque o som do barco acaba sendo muito constante e incomoda nós mergulhadores. Isso me faz pensar um pouco que a vida marinha também acaba se sentindo incomodada por esse mesmo fator."
RONNIE TAVARES, instrutor de mergulho em Arraial do CaboMergulhe mais fundo
Diante da importância de pensar a poluição sonora –e a vida marinha, de maneira geral–, o Correio Sabiá montou uma seção permanente para tratar de Oceanos. Descubra mais reportagens no link abaixo e nos ajude a fazer barulho, no bom sentido, para estimular a sustentabilidade dos ecossistemas. O mar tá mexendo!
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