'Sucessor do Lula não é um nome; é o PT', diz Edinho Silva

Cotado para assumir a presidência do PT, Edinho Silva declarou ao Correio Sabiá que Lula é candidato natural em 2026 e defendeu fortalecimento do partido para o momento de apontar seu sucessor

'Sucessor do Lula não é um nome; é o PT', diz Edinho Silva
Ex-prefeito de Araraquara por 4 mandatos e ex-ministro da Secom, Edinho Silva é cotado para assumir a presidência do PT / Imagem: Divulgação
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Cotado para assumir a presidência do PT (Partido dos Trabalhadores) na eleição prevista para 6 de julho de 2025, Edinho Silva afirmou em entrevista ao Correio Sabiá, no dia 8 de fevereiro de 2025, que o sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não é um nome específico, mas sim o fortalecimento do partido para construção de uma liderança forte no futuro.

Edinho declarou que deve ser apoiado pelas principais lideranças do PT em sua candidatura para presidir a sigla e desconversou quando foi perguntado diretamente se Lula o apoiava. Falou em continuar o trabalho que vem sendo conduzido pela atual presidente da legenda, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), a quem fez elogios. Disse ser cedo para definir se terá ou não apoio dela.

Ao avaliar a Economia do país, Edinho Silva falou que a prioridade do governo deve ser diminuir ao máximo o impacto inflacionário, principalmente sobre os alimentos. Disse que defende a política econômica conduzida pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) e que não tem "nenhuma possibilidade" de o governo ser exitoso sem sucesso nessa área. Declarou que não sabe se Haddad é unânime no partido. Já a política fiscal, para ele, tem sido adequada. 

Edinho também comentou que os partidos que estão no governo precisam representar votos no Congresso Nacional em projetos de interesse do Executivo. Avaliou que as mudanças nas presidências da Câmara e do Senado são positivas e devem melhorar a relação com o governo. Ainda disse que o apoio "parlamentar-governamental" deve ser traduzido em alianças para 2026.

Edinho Silva é ex-prefeito de Araraquara (SP) por 4 mandatos e ex-ministro da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República), cargo que ocupou durante o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Cotado para presidir o PT, Edinho Silva dá entrevista ao Correio Sabiá

Eis abaixo a transcrição da entrevista, na íntegra, com trechos relevantes em negrito para facilitar a leitura:

Maurício de Azevedo Ferro (MAF): Edinho, a primeira pergunta que eu tinha para você era sobre justamente o aniversário de 45 anos do PT nessa segunda, que é muito ano, e eu queria entender como o senhor acha que está a estrutura do partido neste momento político do país?

Edinho Silva (ES): O PT é resultado de um processo de construção da própria sociedade. Eu penso que é um partido que superou imensas dificuldades. Se nós pegarmos todos os ataques que o partido sofreu desde a sua criação, ele mostra um poder de resiliência que só se explica pela relação que ele tem com a sociedade brasileira; pela forma como ele está enraizado na sociedade brasileira.

E, nesse sentido, eu penso que o partido, ele é um projeto vitorioso. Claro, tem desafios de organização, tem desafios de formulação.

Nós estamos vendo um momento histórico extremamente difícil, tanto da perspectiva nacional como da internacional. Então, o partido tem desafios, porque ele é um instrumento de ação na sociedade, na realidade.

Então, portanto, ele sempre terá desafios para poder ser coerente com o momento histórico que ele está atuando. Então, os desafios de organização são grandes, porque a conjuntura política é muito complicada.

Nós estamos vivendo uma ascensão do fascismo no mundo. E, por consequência também, algo que a gente nunca viveu, que é nós estarmos presenciando manifestações fascistas no país, a expressão política do fascismo, com capacidade de mobilizar setores da sociedade.

Então, é um momento político muito complexo, que vai exigir do PT muita capacidade de interpretação da realidade, muita capacidade de formulação de propostas para enfrentar essa realidade.

E eu não tenho nenhuma dúvida que o desafio histórico do PT nesse momento é derrotar o fascismo. E, claro, certamente um dos grandes feitos para que a gente enfraqueça o fascismo no Brasil é a reeleição do presidente Lula, porque vai simbolizar, em 2026, uma grande vitória política e a vitória, na minha avaliação, do processo civilizatório contra o fascismo.

Maurício de Azevedo Ferro (MAF): Então, o presidente Lula é candidato à reeleição em 2026?

Edinho Silva (ES): O presidente Lula é candidato à reeleição. Naturalmente, ele é candidato à reeleição.

MAF: Porque, pelo que eu tenho visto, o Lula tem evitado se colocar como candidato em 2026 e, muitas vezes, se debate quem é o eventual sucessor do Lula no campo da esquerda, muitas vezes falando sobre o Haddad, ministro da Fazenda. Como que o senhor vê uma eventual preparação no futuro? Não digo nem em 2026, mas em 2030, como que o senhor vê uma preparação para o eventual sucessor do Lula quando ele não puder mais ser candidato? Existe essa grande liderança na esquerda para sucedê-lo?

ES: Muitas vezes, eu tenho conversado com o presidente Lula, e essa síntese é a síntese desse processo de diálogo.

A sucessão do presidente Lula não é um nome. A sucessão do presidente Lula é o PT.

Se o partido estiver forte, estiver organizado, com capacidade de formulação, com capacidade de diálogo com a sociedade brasileira, o nome nós construímos.

Portanto, a sucessão do presidente Lula é o próprio partido e, se o PT estiver forte, o nome será construído com naturalidade.

MAF: E é o senhor quem vai presidir o PT a partir de julho?

ES: Eu sou pré-candidato à presidência do PT. Claro que, no PT, o processo de debate é longo. É um processo que valoriza muito a democracia interna. Portanto, até julho, muita coisa ainda vai acontecer dentro do partido, mas a minha pré-candidatura está colocada.

MAF: A gente sabe que presidir um partido do tamanho do PT demanda muita conversa, muito diálogo. Sem isso, não dá para presidir nada, muito menos o PT. Então, quais são os seus principais apoiadores hoje dentro do partido para assumir a presidência?

ES: Eu devo ser apoiado pelas principais lideranças do PT, mas esse apoio será construído, como você próprio diz, em decorrência de um processo longo de diálogo. Então... eu prefiro concluir.

MAF: O senhor tem o apoio do Lula?

ES: O presidente da República tem muitas coisas para se preocupar no país. Claro que o presidente Lula se preocupa muito com o partido. Como eu disse há pouco, se o PT estiver forte, o seu sucessor será construído pelo próprio partido.

Mas, claro, o presidente Lula não tem que se envolver em disputas internas do PT. O PT tem que ter instrumento para construir os seus consensos. Então, eu sou a favor que o presidente não se envolva em disputa interna.

MAF: Numa eventual presidência sua do PT, o que mudaria em relação à presidência da Gleisi [Hoffmann, atual presidente do partido]?

ES: A Gleisi presidiu o PT no pior momento da nossa história. E ela presidiu de forma muito competente, unificando o PT para que ele pudesse superar todas as perseguições, todas as injustiças e todas as manipulações, inclusive na esfera do Judiciário.

Então, eu não tenho nada que superar em relação à gestão da Gleisi. Eu tenho que complementar a sua gestão, porque esse momento histórico que nós estamos vivendo é diferente do momento histórico que ela presidiu e que está presidindo.

MAF: Então, na sua visão, seria um complemento do que a Gleisi vem fazendo? Não haveria nenhuma mudança substancial?

ES: Não, é uma complementação do trabalho da Gleisi.

MAF: Certo. Edinho, como que o PT deve se comportar em relação a alguns grandes temas que a sociedade tem colocado, como, por exemplo, a segurança pública e a economia?

ES: Olha, o PT, primeiro, tem que apoiar o governo. O PT é o partido do presidente Lula, então ele tem que apoiar o governo. Mas, claro, ele tem que ter propostas para fazer a disputa na sociedade.

Até porque, por ser um governo de coalizão, se o partido não tiver propostas, claro que nós vamos perder espaço político. Então, nós temos que ter propostas. Eu penso que a segurança pública é um tema que o partido tem que elaborar, tem que formular.

Claro que a nossa concepção de segurança pública é diferente daquilo que as forças fascistas defendem. Eu, por exemplo, defendo uma política de segurança pública, além de toda a prevenção que nós temos que ter, além das medidas que nós temos que efetivar para evitar o ambiente da violência, nós temos que investir muito, muito, em uma avaliação no Brasil, na inteligência.

Eu penso que os principais países do mundo que foram vitoriosos na política de segurança pública investiram em inteligência. Hoje, você tem condições de criar um sistema de monitoramento no espaço urbano, onde você monitore o tempo real que acontece na cidade.

Você tem condições, com a inteligência artificial, de construir instrumentos de rastreabilidade da criminalidade de forma muito mais efetiva e rápida. E, na minha avaliação, você tem que trabalhar com a integração das estruturas de segurança do país.

A estrutura de segurança pública precisa conversar, tanto o ente federal, como os entes estaduais, os estados, e os municípios. Nós temos que ter uma integração de informações para que a gente possa ter muito mais agilidade e eficiência no combate à criminalidade.

Quando diz da Economia, claro que o partido tem que ter as suas posições, o partido tem que ter as suas formulações. Nós somos um partido que tem, por tradição, a defesa de um modelo de desenvolvimento econômico que valorize o nosso projeto nacional, nosso projeto de país; que a gente tenha um projeto de desenvolvimento econômico que valorize toda a nossa estrutura, que não é pouca coisa. O Brasil é um país continental que tem uma agroindústria potente, que tem condições de extrair minérios importantes.

Nós temos que ter uma política de industrialização que agregue valor à nossa capacidade de produção, tanto do ponto de vista da nossa produção agroindustrial, como na nossa capacidade de extração de minérios. Ou seja, nós temos que agregar valor à nossa capacidade de produção de commodities.

O PT sempre defendeu que o Brasil se norteasse por um projeto de desenvolvimento nacional. Mais do que nunca, na nova geografia política mundial, esse projeto tem que ser estruturado e tem que ser fortalecido.

Então, nós temos problemas imediatos para enfrentar. O governo Lula assumiu o Brasil com um rombo de quase R$ 700 bilhões. Portanto, nós temos, sim, a capacidade de enfrentar um déficit fiscal importante que foi aprofundado pelo governo Bolsonaro.

Nós temos condições, até pela nossa capacidade, como eu disse há pouco, de produção agroindustrial, de ter uma política de estoque regulador. A gente enfrente os problemas climáticos que estão cada vez mais presentes no mundo todo e a gente, portanto, enfrente a questão da alta dos preços, principalmente dos alimentos.

O Brasil é um país com capacidade de produção de alimentos como poucos no mundo. Portanto, nós temos condições de enfrentar a questão climática, aumentando a nossa produção, aumentando a nossa capacidade de estoque.

Isso eu penso que é fundamental para que a gente enfrente os problemas inflacionários que uma parte a gente pode até explicar do ponto de vista da política interna, mas, efetivamente, boa parte do processo inflacionário se dá pelas condições mais econômicas mundiais e principalmente pelo preço das commodities.

MAF: E a forma correta de endereçar uma solução para esse problema [alta do preço dos alimentos] é estimulando a produção interna, na sua visão?

ES: Você não enfrenta problemas inflacionários com uma medida só. Eu disse agora há pouco que uma parte da nossa contaminação inflacionária se deve à condição política internacional, à condição econômica no mundo hoje, às disputas que estão se dando pela nova geografia política internacional.

Uma parte do nosso processo inflacionário se deve ao preço das commodities, portanto, dificilmente a gente tem como regular ou tem como enfrentar só com medidas para o mercado interno, mas claro que poucos países do mundo têm condições de enfrentar o processo inflacionário dos alimentos como o Brasil, pela nossa capacidade produtiva e pela capacidade que nós temos de ter um estoque regulador. Eu acho que poucos países do mundo têm as condições que o Brasil tem.

MAF: Edinho, deixa eu te perguntar, o senhor mencionou há pouco a agroindústria, e a gente também falou um pouco de segurança pública, e eu queria somar a esses 2 campos um outro fator que é o empreendedorismo. O MEI, por exemplo, foi sancionado, se não me engano –e o senhor pode me corrigir–, numa gestão petista. Todas essas áreas –a agroindústria, o empreendedorismo e a segurança pública–, elas estão hoje fortemente alinhadas a um campo político diferente do PT. Por que o senhor acha que isso aconteceu e como resgatar esses segmentos?

ES: Aconteceu, como tem acontecido no mundo todo por conta da polarização política. Nós estamos vivendo um ambiente de polarização política muito acirrado e com características internacionais. E no Brasil se deu da mesma forma.

Eu penso que, se nós olharmos do ponto de vista histórico, pelo menos na história recente, nenhum governo apoiou mais a agroindústria, inclusive com a política de crédito, do que os governos do PT, do que o governo do presidente Lula.

MAF: E mesmo assim esses setores estão hoje alinhados a outros campos políticos. Como eu falei, a agroindústria, o senhor mesmo disse que era um dos pilares, o PT apoiou historicamente a agroindústria. O empreendedorismo foi sancionado, o MEI foi sancionado, numa gestão petista e, mesmo assim, esses campos hoje estão muito vinculados a outros segmentos políticos. Como resgatá-los? Como, então, trazer de volta, já que o senhor possivelmente pode assumir a presidência do PT, como trazer de volta essas pessoas, esses campos?

ES: Dialogando, não há outra forma. Como eu disse, nós estamos vivendo um processo de polarização política. E não há outra forma de você chamar a racionalidade os setores hoje hegemonizados por essa polarização do que dialogando.

Nós vamos dialogar, nós vamos manter a nossa capacidade de diálogo com os setores que hoje são hegemonizados por essa polarização, são setores que sempre se beneficiaram pelas políticas públicas dos nossos governos.

Setor agroindustrial, a regulamentação do empreendedorismo no Brasil, o apoio a pequena e média empresa. Então, nós temos que mostrar que não há essa contradição que se alimenta entre o que o PT defende e os interesses desses setores. Ao contrário, nós sempre estivemos apoiando e incentivando esses setores.

MAF: Perfeito. Em relação a apoio, o senhor apoia a condução da Economia pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, certo?

ES: Sim, até porque eu defendo o governo do presidente Lula. E não tem a menor possibilidade do governo do presidente Lula ser exitoso se a nossa política econômica não for.

MAF: Perfeito, mas isso é uma unanimidade dentro do PT, esse apoio ao Haddad?

ES: Eu não sei se é unânime. É difícil você falar de alguma posição unânime dentro do PT, porque o partido é um partido que tem uma estrutura de democracia interna extremamente valorizada e respeitada ao longo da nossa história.

Então o PT é um partido democrático que as forças políticas, os grupos políticos, as lideranças têm todo o direito de expressar o que pensam. Então o consenso eu acho muito difícil. Mas não há nenhum registro histórico em que um governo tenha sido vitorioso com uma política econômica derrotada.

Ao contrário. Se a política econômica é derrotada, o governo é derrotado. Então nós temos que ter essa consciência, essa clareza e dar todo o apoio necessário para o governo do presidente Lula.

Inclusive apoio à economia desenvolvida pelo governo do presidente Lula. Perfeito. A política econômica, melhor dizendo.

MAF: O senhor falou há pouco que o PT deve estar, não exatamente com essas palavras que eu vou colocar agora, mas o senhor deu mais ou menos o tom de que o PT deve dar suporte, apoio ao governo. No sentido de que devem estar vibrando, devem estar na mesma vibração. Só que houve, ao longo dos últimos meses, alguns posicionamentos diferentes entre o governo e o PT. Alguns que eu me recordo, puxando aqui na memória rapidamente, em relação à política externa, principalmente a eleição de países vizinhos. Eu queria entender, exatamente: qual é o peso do que pensa o presidente do PT com o que faz o presidente do país?

ES: O PT não tem como centralizar, mudar a conjuntura política do país se o governo do presidente Lula não for um governo exitoso. Nós não vamos conseguir impor derrotas ao fascismo se o governo do presidente Lula não for um governo exitoso. Então o centro da nossa conjunção política tem que ser –e é– o governo do presidente Lula.

MAF: Uma coisa que me chamou a atenção conversando com você, foi que você elogiou a gestão da Gleisi à frente do PT. Falou que uma eventual gestão sua seria uma continuidade do trabalho que ela vem fazendo, mas, até onde vi e onde sei, o senhor não é o candidato imediato dela. Haverá uma outra pessoa apoiada pela Gleisi, né? Então, no que exatamente o senhor se diferencia? Porque, se for uma continuidade, né, por que não o candidato dela? Qual exatamente a diferença de um e de outro?

ES: Eu também disse a você que o contexto histórico que a Gleisi foi presidenta e que ela está sendo, mas principalmente que ela foi, é um contexto histórico muito específico, onde nós fomos duramente atacados por todos os setores conservadores da sociedade brasileira, fomos atacados diante de uma manipulação respaldada pelo Judiciário brasileiro.

O presidente Lula foi preso, lideranças importantes do PT foram presas, então é um contexto histórico específico que a Gleisi foi fundamental para que o partido saísse com força e com capacidade de organização desse processo todo, então eu não tenho nenhuma dúvida da importância histórica da presidência da Gleisi para que a gente tivesse condições de enfrentar esse momento.

Claro que as condições históricas colocadas para esse momento agora são outras e exigirá do PT também a superação de outros desafios. Eu acho que o que eu te falei no PT é muito prematuro, porque nós iniciamos agora o processo de debate interno entre as forças ou dentro das forças.

Então, acho que é muito prematuro dizer que a Gleisi me apoiará ou não me apoiará. Eu acho que tem muito processo a ser construído antes dessa definição.

MAF: E, Edinho, outra coisa que você falou bastante nessa conversa foi de apoiar o governo e do êxito do governo junto ao PT. Bom, o governo tem tido êxitos, tem trabalhado, tem mostrado alguns resultados, muitos deles inclusive na Economia, só que houve aí uma mudança na Secom, que você inclusive chefiou. Na sua visão, a comunicação era um gargalo do atual governo?

ES: Eu acho, assim, a comunicação, ela comunica aquilo que é construído na política. Então, você jogar todo o ônus das dificuldades de um governo sobre a comunicação não é correto.

MAF: Qual que é o peso da comunicação numa eleição, por exemplo?

ES: Então, tem um peso importante, mas mais importante que a comunicação é a construção política, porque se você não tiver construção política, você não tem o que comunicar. A melhor coisa é o governo. Se o governo não estiver construindo politicamente e não estiver tendo entregas, é muito difícil comunicar. Então, eu penso que cobrar só da comunicação o êxito de um governo é...

[Neste momento, a ligação caiu e retornou em seguida.]

Eu estava dizendo que, claro que a comunicação é importante, mas mais importante que a comunicação é a construção política. São as entregas que você constrói, porque se você não tiver construção política, você não tem o que comunicar.

MAF: Certo, e a gente tem aí 2 anos, um pouco menos que isso, mas 2 anos para a eleição de 2026 e é necessário fazer construções políticas. Quais são as prioridades para os próximos 2 anos, principalmente em relação à Economia?

ES: O governo tem uma série de iniciativas importantes e que, se elas começarem a significar entregas, isso é muito importante. São iniciativas do governo muito robustas, se a gente consegue garantir essas entregas, você tem fatos importantes a serem comunicados.

Na Economia, na minha avaliação, a prioridade é você diminuir ao máximo o impacto do processo inflacionário, principalmente dos alimentos.

Como eu disse, uma parte desse processo inflacionário não depende das ações internas, são commodities, então é muito difícil você fazer gestão sobre isso. Mas aquilo que a gente pode fazer gestão, eu penso que a gente controlando a inflação, fazendo entregas de obras, aprimorando programas importantes, como o Pé-de-Meia, o programa de incentivo ao magistério, a gente avançando na área de infraestrutura, da transição energética, eu penso que a gente constrói uma agenda muito, muito importante e que certamente fará a diferença.

MAF: Em relação a esses programas, muitos deles, se não todos, estão ali na pasta, se não me engano, do Desenvolvimento Social. Em relação à Fazenda mesmo, em termos de política fiscal, como o senhor pensa?

ES: A política fiscal eu penso que o governo tem tratado da forma adequada. Nós nunca podemos esquecer o rombo deixado pelo governo Bolsonaro, que isso impôs a nós uma agenda muito difícil, que é tentar por para dentro do Orçamento todo o déficit que o governo gerou. Se a gente pegar durante o governo Bolsonaro, [foi] por volta de R$ 700 bilhões, então não é um processo simples você pôr esse déficit desse tamanho para dentro do Orçamento em um curto espaço de tempo.

Então, nós temos que fazer esse diálogo com a sociedade, que nós estamos perseguindo o equilíbrio fiscal, que a prioridade do governo Lula é o equilíbrio fiscal, mas efetivamente nós temos alguns problemas. Por mais que no caso do governo brasileiro ele priorize o combate ao déficit, a pressão herdada é muito grande.

Então, nós temos que fazer um diálogo franco com a sociedade para que a sociedade entenda efetivamente o que está acontecendo com a Economia brasileira.

MAF: Perfeito. E Edinho, agora para a gente finalizar mesmo já o último assunto que eu queria colocar com o senhor. A gente está aí num cenário também de preparação para 2026 e o governo tem começado a promover algumas alterações ministeriais. Eu comentei com o senhor sobre a alteração na Secom, mas estão aí na mesa algumas outras eventuais mudanças. E muito se fala inclusive da Gleisi sair antecipadamente da presidência do PT para assumir a Secretaria-Geral. Houve notícias, inclusive, do ministro Fernando Haddad eventualmente assumir o ministério da Casa Civil, deixando a Fazenda para o Alckmin. Como que o senhor vê esse processo de reorganização do governo federal com a eleição de 2026 se aproximando?

ES: Olha, primeiro eu acho que tem muita especulação. Muita especulação. Eu acho que o governo não pode se nortear por especulação. Eu acho que vai ter reforma, que é natural que tenha. Você já percorreu 2 anos de mandato, então você consegue fazer um diagnóstico do que está indo bem, daquilo que precisa ser aprimorado, que é natural.

Então tem esse fator. E tem também, na minha avaliação, uma necessidade da gente ter uma folga maior na governabilidade, portanto de trazer para a base outros partidos que não estão conosco.

E claro, você percorre 2 anos, você faz o balanço, você percebe que você tem que mudar, é natural que você, nesse ambiente de mudança, você procure ampliar a sua base parlamentar. Eu acho que isso é um processo plenamente normal, eu não vejo problema nenhum.

Agora, é que tem muita especulação, porque oficialmente o governo ainda não fez nenhum movimento.

MAF: Qual partido exatamente para atrair para a base?

ES: Não é nem partido, é você fazer com que os partidos que estão ou que têm votado com o governo se sintam contemplados nos ministérios que eles estão. Não adianta você fazer uma conta de um partido que está no ministério, mas você vai para dentro da Câmara e o partido não vota com você.

Então, eu penso que a coalizão tem que estar expressa no Congresso Nacional. Então, você tem um ministro, esse ministro tem que significar a ampliação ou a manutenção dessa base que nós estamos falando.

MAF: [Está falando do] PSD?

ES: Eu não sei se o PSD vem para o governo, não sei mesmo. Porque o PSD, tradicionalmente, ele sempre deixa o partido livre do ponto de vista eleitoral.

Agora, lideranças do PSD estão no governo. O PSD tem ministérios importantes. Agora, nós temos que traduzir esse apoio parlamentar-governamental num apoio de aliança para 2026.

MAF: Certo. E essa mudança agora nas presidências da Câmara e do Senado, o senhor acha que foi positiva, uma continuidade...?

ES: Não, eu vejo de forma positiva. Porque são 2 parlamentares, mesmo o Hugo [Motta, presidente da Câmara,] que é mais jovem, mas com muita experiência, muita rodagem na Casa. Então, isso vai facilitar muito a vida do governo, porque são parlamentares experientes e que certamente vão conseguir travar um nível de diálogo com o governo muito diferente que a gente não conseguiu ter nesses 2 primeiros anos.

MAF: Bacana, maravilha. Edinho, eu acho que a gente já pode pensar em fechar. Já tomei muito do teu tempo, e eu sei que você está atarefado. Queria só deixar um espaço aberto para o caso de eu não ter perguntado alguma coisa que o senhor acha relevante falar.

ES: Claro. Você perguntou absolutamente tudo que é importante estar numa matéria com esse perfil que você está fazendo. Eu não tenho nenhuma consideração.

MAF: Maravilha. Então, eu te agradeço muito pelo teu tempo. Muito obrigado mesmo por ter me atendido.


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